Mercado de retrofit em Brasília: requalificação e modernidade
O termo retrofit significa “colocar o antigo em forma”. Do latim, retro expressa “movimentar-se para trás” e fit, do inglês, traduz-se por adaptação, ajuste. Retrofit, portanto, é a técnica que consiste em reformar uma construção na qual se preservam as qualidades, adequando às exigências atuais para estender a vida útil.Em outras palavras, é requalificar um edifício já construído como um processo natural de atualização –tecnológica ou civil.
Mais do que uma simples reforma, o procedimento consiste em corrigir distorções criadas e acumuladas ao longo do tempo de uso de uma instalação. Além disso, atualiza o sistema existente com novas regras, reduz custos operacionais, economiza energia e valoriza o imóvel.Vale ressaltar que o processo de retrofit não se limita somente a edifícios porque atinge também grandes áreas urbanas, principalmente quando se trata de revitalização e melhoria de construções.
O retrofit em Brasília, por exemplo, é considerado um mercado de trabalho ascendente. A grande maioria dos edifícios foi construída em 1960, época da inauguração da cidade, com projetos de boa qualidade e elevado valor patrimonial em função de sua localização. Contudo, encontram-se defasados em tecnologia – particularmente as instalações prediais, algumas já com riscos de acidente. Sendo assim, algumas construções da capital – consideradas patrimônios históricos – carecem de reforma, mas é preciso manter as características da arquitetura original, bem como introduzir a tecnologia de ponta e a linguagem adequada.
O arquiteto Sergio Parada, responsável pelo projeto do Terminal de Passageiros do Aeroporto Juscelino Kubitschek nos anos 90, afirma: “Em Brasília foi implantado um novo conceito urbanístico e porque não dizer arquitetônico. Apesar de sua idade recente, a capital tem um grande mercado no que se refere a readequação de seus edifícios. Porém, tanto o Estado quanto a iniciativa privada têm que ter consciência disso”.
Outro exemplo é o Palácio do Congresso Nacional, que passou por um retrofit na década de 80. O presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR), Haroldo Pinheiro, atuou como membro de coordenação da obra juntamente com Oscar Niemeyer, autor do projeto. Pinheiro diz que o espaço passou reforma profunda – muito bem estudada e exercida. Devido a defeitos nas instalações elétricas, circulação e acabamentos, o arquiteto afirma: “Praticamente refizemos o edifício por dentro. Entre as alterações, construímos um heliponto na cobertura, instalamos equipamentos de climatização centralizados e acabamos com os circuitos periféricos. A iluminação passou a ser mais eficiente e econômica”.
Haroldo Pinheiro certificou ainda que o respeito ao projeto original e o conhecimento das soluções técnicas adotadas à época da construção do edifício são essenciais para que se obtenha sucesso em um projeto de retrofit. “Devemos recuperar a dignidade original, potencializar as qualidades e atualizá-lo tecnologicamente”, disse. Por fim, ele explica: “É necessário adequá-lo às exigências contemporâneas de acessibilidade, sustentabilidade, conforto, eficiência energética e respeito ao meio ambiente. A consideração ética à história da edificação é fundamental para que o prédio se renove com decência”.
Por Rachel Sabino