O nosso primeiro post com os temas ai do lado, inovação, sustentabilidade e eficiência energética, tem a ver com um conceito bem conhecido, a chamada geopolítica da energia. Sem floreios: para garantir suprimento e preservar estoques, povos se aventuraram, dominaram, invadiram e guerrearam (e mataram, evidentemente) outros. Em busca do óleo de baleia, os europeus do norte, já nos anos 1600, pescavam na Groelândia. E atravessaram o Atlântico, para chegar às latitudes mais altas da América, dizem, ainda antes de Colombo. Aventuras iguais ocorriam também nos mares da China e do Japão. E não precisa nem comentar as barbáries que aindam acontecem hoje por conta do petróleo, né,?
De fato, a geopolítica da energia, como a entendemos atualmente, iniciou-se com a exploração do petróleo, em meados do século XIX, e se desenvolveu par e passo com a primeira revolução industrial. Mas, como todo produto humano desmorona frente à imutabilidade do tempo, parece que a instabilidade chegou também a esse domínio: o desenvolvimento de um sistema dinâmico complexo é suscetível a bifurcações, perturbações, catástrofes e caos . / The development of a dynamical complex system creates bifurcations, instabilities, catastrophes and chaos / Do equilíbrio sustentado por aventuras, invasões e guerras para a instabilidade produzida por inovação e tecnologia disruptivas, regulações públicas, conscientização e pressão social.
Um dos princípios da geopolítica da energia é (ou era…): para que não haja um desequilíbrio entre as estruturas produtivas de parceiros comerciais, países, o preço da energia deve ser minimamente paritário. Um exemplo no nosso quintal: os financiamentos internacionais para as grandes hidrelétricas do Brasil, Itaipú, etc, foram concedidos com requisitos de garantia de preços mínimos da energia comercializada (no caso específico de Itaipú, lá por volta dos 70s, estabeleceu-se que a receita fosse calculada pela capacidade de produção, isto é, a potência da Usina, independentemente do que fosse efetivamente gerado e consumido de energia, para garantir uma receita constante ao longo dos anos). Talvez isso até explique os preços elevados da energia elétrica no país, mesmo após a amortização, há anos, década, dos financiamentos: inércia.
Mas voltemos aos temas: três notícias da semana passada chamaram atenção e estão relacionadas com eles. A primeira, um artigo de C. Ruehl, economista chefe da petroleira britânica BP, publicado pelo Financial Times, mostra que o PIB mundial está crescendo com uma menor densidade de energia. Isto é, há mais PIB por unidade de energia; a riqueza mundial estaria crescendo em ritmo superior ao crescimento do consumo de energia. As razões? Inovação, ações de sustentabilidade, maior eficiência energética e mudanças da estrutura econômica da sociedade.
A inovação está na sua (leitor…) frente: os monitores de tubo, há 10 anos, consumiam 40% da energia de seu desktop; hoje, um de LED consome, no máximo, 10%. A sua TV de 10 anos, e a de hoje, idem. Se sua casa ainda não é iluminada com leds, ainda será. Uma parcela de pessoas, embora pequena, já trabalha remotamente, não precisa de ir todos os dias ao escritório, usar o carro, transporte coletivo, graças à Internet, às fibras óticas, ao TCP/IP, ao VOIP, ao streaming, à Web, etc, etc…
Hoje ficamos por aquí. No post da semana que vem comentarei as duas outras notícias e veremos o que sustentabilidade, eficiência energética e mudanças da estrutura econômica das sociedades têm a ver com o que já foi dito. Enquanto eu sigo fritando os miolos para tentar escrever algo razoável sobre essas coisas, nesta temporada de eventos limítrofes (calor, chuva, frio, um vendaval derrubou metade da moringa oleífera do meu quintal, uma árvore tão desfolhada e que parecia estável…), deixo-o matutando: esses eventos são respostas, induzidas pela ação humana, de um sistema (dinâmico e complexo) ambiental caótico, como afirmam muitos. Ou quá?
Fernando França
Algumas referências:
– Sobre a geopolítica da energia, Geopolitics of energy: Belfer Center for Science and Internat. Affairs, Harvard University >>http://belfercenter.ksg.harvard.edu/project/43/environment_and_natural_resources.html?page_id=334
– Instabilidades, bifurcação, catástrofe e caos na Teoria dos Sistemas Dinâmicos (biológicos) >> Waddington, C. H., Tools for thought: how to understand and apply the latest scientific techniques of problem solving. Basic Books (1977).
– Itaipú e outras >>http://www.cbdb.org.br/documentos/A_Historia_das_Barragens_no_Brasil.pdf
– A pesca da baleia, Whale hunting, Wikipedia >> http://en.wikipedia.org/wiki/Whaling
– Sobre a exploração do petróleo >> http://www.dep.fem.unicamp.br/drupal/?q=node/27
– Civilizações, apogeu, queda, dominação, guerra >> Guns, Germs, and Steel: The Fates of Human Societies, J.M. Diamond (1999)
– O artigo do C. Ruehl, Over the Hump for Oil Demand, Financial Times / Commodities, 15/01/14 >> http://www.ft.com/intl/cms/s/0/5485867c-7d43-11e3-a579-00144feabdc0.html#axzz2rCy5pu73
– E a Moringa Oleífera, a árvore do milagre >>
http://sempresustentavel.com.br/terrena/moringa-oleifera/moringa-oleifera.htm